A LÓGICA DA AMIZADE E DO AMOR: BEM SABES QUE TE AMO
Quão grande é a diferença entre a primeira leitura, dos Atos dos Apóstolos, e a segunda, do Apocalipse! Os Atos dos Apóstolos narram-nos a primeira perseguição dos cristãos, o Apocalipse de São João descreve-nos o louvor, que no Céu, fazem os Anjos, os Seres Vivos e os Anciãos. “Miríades de miríades e milhares de milhares” louvam o “Cordeiro que foi imolado”. Por um lado, temos a tribulação; por outro, a alegria na sua plenitude. Os Atos dos Apóstolos fazem referência à perseguição, às dificuldades e obstáculos para a difusão do Evangelho: “Já vos proibimos formalmente de ensinar em nome de Jesus; e vós encheis Jerusalém com a vossa doutrina”. Entre a perseguição e o louvor, há o encontro pessoal com Jesus ressuscitado, há o chamamento do Senhor. Há missão que, novamente, o Senhor renova aos seus discípulos e, também, a nós. Entre as suas tarefas diárias e a desilusão, Simão Pedro diz: “Vou pescar”; na sofredora realidade dos que confiaram no Senhor e não viram quaisquer frutos pelo facto de O terem seguido, o Senhor ressuscitado torna-se presente. Como no dia de Páscoa, “ao romper da manhã”, Jesus apresenta-se na margem do mar de Tiberíades e pede algo que os seus discípulos não lhe podem dar. O esforço dos discípulos não deu resultado, as suas iniciativas e as suas planificações foram infrutíferas. Mas é o Senhor ressuscitado que os convida a repetir as mesmas tarefas, que insiste nas mesmas pessoas e no mesmo lugar: “Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis”. Obedecendo ao Senhor, a pesca é abundante e o trabalho dá muito fruto. É nesse momento que se dá a profissão de fé, renovada e autêntica: “É o Senhor”. Dá-se um novo encontro, não já com Jesus que passou pelo mundo a fazer o bem, como dizia Pedro nas suas pregações, mas com o Senhor ressuscitado que, transformado, transforma também aqueles que estão ao seu lado. Por isso, há uma confissão renovada de fé do primeiro dos Apóstolos, Pedro, e, com ele, de todos os outros. É uma confissão de amor: “Sim, Senhor, tu sabes que Te amo”. Uma confissão que leva à vocação: “Segue-me”. Uma confissão que dá testemunho, perante o Sinédrio, como escutamos na primeira leitura: “Deve obedecer-se antes a Deus que aos homens”. Apenas com esta obediência e com este testemunho, se pode ser participante do louvor na plenitude da glória: “Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro o louvor e a honra, a glória e o poder pelos séculos dos séculos”. A Páscoa faz com que vejamos o Ressuscitado que vem ao nosso encontro e ajuda-nos a renovarmos a nossa fidelidade e a darmos testemunho diante de todos os que nos rodeiam. Se São Pedro e os seus companheiros encheram Jerusalém com a doutrina de Cristo Ressuscitado, como dizia o sumo-sacerdote no Sinédrio, enchamos nós, hoje, as nossas cidades, vilas e aldeias com o nosso testemunho simples, mas convicto, da ressurreição de Jesus. Na Eucaristia, louvamos o Senhor para, depois, darmos testemunho na sociedade. Na celebração da Eucaristia, reconhecemos o Ressuscitado para, depois, enchermos a sociedade que nos rodeia com a doutrina do Salvador. Na Eucaristia, saciamo-nos, não do peixe nas margens do mar, mas do pão da vida, do pão descido do Céu, do Senhor ressuscitado que se nos dá como alimento, para que, cada um possa, também, dizer: “É o Senhor” e “Senhor, tu sabes tudo, bem sabes que te amo”. |