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01-novembro Solenidade de Todos Os Santos

02-novembro Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos

OS SANTOS SÃO “AQUELES QUE SE FORAM DA LEI DA MORTE LIBERTANDO” 

A Solenidade de Todos os Santos, que celebramos todos os anos quando o outono começa, convida-nos a olhar simultaneamente para o passado, presente e futuro da nossa vida como cristãos. Em primeiro lugar, um olhar sobre o passado, recordando que em todo o mundo e ao longo dos séculos existiram pessoas que viveram o Evangelho de Jesus; homens e mulheres que nos deixaram grandes testemunhos, muitas vezes sem se aperceberem: “uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas”, diz-nos a primeira leitura. Se neste dia estamos na igreja, é porque na nossa história de vida pessoal tivemos alguém que nos motivou a levar a fé a sério; eles são os nossos santos particulares; talvez na família ou em alguma comunidade cristã tenhamos conhecido alguém que foi para nós uma referência credível do Evangelho. Em segundo lugar, um olhar para o presente. Também hoje somos chamados a viver a santidade. O Papa Francisco afirma na Exortação Apostólica “Gaudete et Exsultate”: “O Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados. Quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa” (nº 1); é o apelo à santidade que devemos cuidar e manter ao longo da vida. A leitura da primeira carta de João diz-nos que a maior prova de amor que o Pai nos deu é a nossa filiação divina: “Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamar filhos de Deus. E somo-lo de facto”. Santidade consiste em crescer dia a dia nesta experiência de vivermos como filhos e como irmãos e irmãs, seguindo o caminho da vida e da felicidade, aberto por Jesus. Em terceiro lugar, um olhar para o futuro, porque nos faz olhar para o fim da nossa caminhada como cristãos, que é a glória do céu. Há uma multidão que já participa nesta glória, como nos diz a leitura do Apocalipse; destes irmãos podemos esperar a sua intercessão, como sempre dizemos na oração da Confissão, ou como se proclama no prefácio da oração eucarística deste dia: “Peregrinos dessa cidade santa, para ela caminhamos na fé e na alegria, ao vermos glorificados os ilustres filhos da Igreja, que nos destes como exemplo e auxílio para a nossa fragilidade”. A comunhão dos santos, que professamos no Credo, é uma misteriosa união que existe entre a Igreja dos bem-aventurados no Céu e a Igreja que peregrina na terra. No Evangelho deste dia, encontramos as bem-aventuranças do evangelista São Mateus. São as primeiras palavras de Jesus a toda a humanidade. Neste texto, podemos ver que a primeira coisa que Jesus Cristo anuncia é uma proposta de felicidade. E é uma proposta alternativa a outras mais comuns, como a felicidade dos ricos, dos poderosos, daqueles que têm êxito, dos famosos. Porém, Jesus diz-nos: Bem-aventurados sois vós, pobres em espírito, que sabeis partilhar o vosso dinheiro, o vosso tempo, as vossas capacidades; Bem-aventurados sois vós, que procurais não só o vosso interesse, mas também trabalhais para o bem comum, que quereis o bem de todos; Bem-aventurados, sois vós que trabalhais por um mundo mais justo, onde a dignidade de cada pessoa é respeitada; Bem-aventurados sois vós, que não sois orgulhosos, que não julgais os vossos irmãos e irmãs, que praticais a compaixão e misericórdia, que defendeis a inocência existente no mais profundo de cada pessoa; Bem-aventurados sois vós, os construtores da paz e da harmonia entre as pessoas; Bem-aventurados sois vós, por serdes firmes na perseguição e na adversidade e por serdes testemunhas da fé. A grande prova de que é possível viver as bem-aventuranças é o próprio Jesus. Foi aquele pobre que nem sequer tinha onde reclinar a cabeça, aquele que chorou pela morte de um amigo ou pela dureza do coração do seu povo, aquele que era um mestre humilde e bondoso de coração, aquele que praticou a justiça e a vontade do Pai, aquele que teve misericórdia dos doentes e dos pecadores, aquele que trabalhou pela paz e reconciliação, aquele que viu o amor nos corações dos pequeninos, aquele que enfrentou com serenidade e coragem a perseguição até à morte na cruz. E nós também podemos dizer que hoje há muitas pessoas que vivem estas bem-aventuranças todos os dias. A verdadeira felicidade encontra-se quando se segue, de uma forma simples e fiel, Jesus, o Mensageiro da Alegria de Deus. Uma pessoa é mais feliz quando ama, até quando sofre, do que quando não ama e, portanto, não sofre por nada.

FIÉIS DEFUNTOS A MORTE É O INÍCIO DE UM CAMINHO PARA A VIDA 

A celebração deste dia é o complemento da Solenidade de Todos os Santos, onde recordámos o testemunho cristão de todos aqueles que viveram no passado e que hoje são amigos de Deus. O que temos mais presente na celebração deste dia é a memória daqueles que fizeram parte das nossas vidas e que fisicamente já não estão entre nós. A morte deixa sempre em nós sentimentos de perda, de ausência e de vazio. Hoje há muitos rostos presentes nesta Comemoração dos Fiéis Defuntos, são aqueles que cada um de nós carrega nas profundezas dos nossos corações: família, amigos, membros da nossa comunidade cristã formam agora uma variedade de nomes e rostos. A primeira maneira, humanamente falando, de encarar estes sentimentos é a memória amorosa e grata da passagem destas pessoas pelas nossas vidas; o amor e a vida dados e recebidos no dia-a-dia e que estão na raiz do nosso vínculo com elas, e que a morte não pode quebrar. Lembremo-nos do que fazia dele ou dela uma pessoa única, com os seus gestos, as suas atitudes para com a vida, a forma como ele ou ela comunicava e nos mostrava o seu amor por nós; e também os seus momentos de fraqueza e pecado que devemos saber perdoar. No entanto, a coisa mais importante deste dia é a esperança de que a morte não significa o fim da existência humana, mas é o início de um caminho para a vida. Confiantes na vontade de salvação de Deus que Jesus anunciou no seu ministério, e que o Pai levou à plenitude na sua morte e ressurreição. Assim, o grande protagonista desta celebração é Jesus Cristo, que com a sua morte e ressurreição venceu a morte e é para todos nós promessa da vida eterna. No dia do nosso batismo recebemos esta promessa de vida eterna, e no batismo participamos sacramentalmente da morte e ressurreição de Jesus Cristo. No evangelho, Jesus diz a Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim não morrerá para sempre”. Neste dia, somos convidados a rezar pelos nossos defuntos; dirigimo-nos a Deus, que, como diz o salmo, “é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade”. Pedimos ao Senhor que acolha tudo o que eles fizeram na vida, e converta em vida eterna todo o amor que se manifestou nas suas vidas neste mundo. Mas também os defuntos, que recordamos, precisam de perdão e de misericórdia. Confiemos no amor infinito do Pai que conhece a nossa fraqueza: “A bondade do Senhor permanece eternamente sobre aqueles que O temem”. Consolemo-nos com estas palavras! A promessa da vida eterna é um dom de Deus, fruto do seu amor pelas suas criaturas, mas deve dar frutos com as obras que praticamos todos os dias. Diz-nos a segunda leitura: “Todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que receba cada qual o que tiver merecido”. A celebração deste dia também é dirigida a nós, tomando consciência da realidade da própria morte e da responsabilidade do que fazemos com a nossa vida. A entrada na vida eterna não é automática, mas consequência de uma vida coerente com o Evangelho de Jesus. Quem entra neste Reino da vida? Aqueles que amaram, que fizeram o bem sobretudo aos rejeitados, aos mais pequenos, aos marginalizados, aos pobres com quem Jesus se identifica: “Tudo o que fizerdes ao mais pequenino dos meus irmãos, é a Mim que o fazeis”. O amor concretiza-se em atitudes de serviço e dedicação aos nossos irmãos, tudo o que partilhámos é a única coisa que nos resta no final da nossa vida mortal; é o tesouro que podemos trazer à presença de Deus e que terá grande valor aos olhos do Senhor.  

Sugestão de Cânticos
Entrada: Felizes os mortos, F. Santos, NCT 412; Comunhão: Eu sou a ressurreição, M. Luís, NCT 420. Ver ainda NCT 411-423; Ofício de Defuntos: Vários autores, NCT 660-675.
Leitura Espiritual

«Creio na comunhão dos santos» 

Irmãos amados, velemos com cuidado por tudo o que diz respeito à nossa vida comunitária, «esforçando-vos por manter a unidade do Espírito, mediante o vínculo da paz» pela «graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo» (Ef 4,3; 2Cor 13,13). Do amor de Deus procede a unidade do espírito; da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o vínculo da paz; da comunhão do Espírito Santo, a comunhão necessária àqueles que vivem em comum. «Creio no Espírito Santo, na santa Igreja Católica, na comunhão dos santos» (Credo): é aqui, na confissão da minha fé, que reside a minha esperança, a minha confiança, toda a minha segurança. Se me for dado, Senhor, poder amar-Te e amar o meu próximo (cf. Mt 22,37-39), embora os meus méritos sejam bem poucos, a minha esperança eleva-se muito acima deles. Tenho confiança em que, pela comunhão da caridade, os méritos dos santos me serão úteis; deste modo, a comunhão dos santos suprirá as minhas insuficiências e imperfeições. A caridade dilata a nossa esperança até à comunhão dos santos, na comunhão das recompensas. Mas essa diz respeito aos tempos futuros: é a comunhão da glória que será revelada em nós. Assim, há três comunhões: a comunhão da natureza, à qual se juntou a comunhão do pecado; a comunhão da graça; e, finalmente, a da glória. Pela comunhão da graça, a comunhão da natureza começa a ser restabelecida e a do pecado é excluída; mas, pela comunhão da glória, a da natureza será reparada na perfeição e a cólera de Deus será totalmente excluída, quando o Senhor Deus enxugar as lágrimas de todas as faces dos santos (cf. Is 25,8; Ap 21,4). Então, todos os santos terão como que «um só coração e uma só alma», e entre eles tudo será comum, pois Deus será «tudo em todos» (At 4,32; 1Cor 15,28). Para chegarmos a essa comunhão e nos assemelharmos na unidade, «que a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam sempre connosco». Ámen. (Balduíno de Ford (?-c. 1190), abade cisterciense, depois bispo, Tratado da vida cenobita)  

«Porque choras?» (Jo 20,13) 

Que chorem os que não têm a esperança da ressurreição; não é a vontade de Deus que lhes tira essa esperança, mas a dureza daquilo em que acreditam. Tem de haver uma diferença entre os servos de Cristo e os pagãos. E essa diferença é a seguinte: estes choram os seus julgando-os mortos para sempre; desse modo, não conseguem pôr fim às suas lágrimas, não encontram descanso para a tristeza. Mas para nós, servos de Deus, a morte não é o fim da existência, mas apenas o fim da nossa vida. Dado que a nossa existência será restaurada por uma condição melhor, que a chegada da morte varra, portanto, todas as lágrimas. A nossa consolação será tanto maior quanto acreditamos que as boas ações que fazemos terão grandes recompensas depois da morte. Os pagãos têm a sua consolação: para eles a morte é um repouso para todos os males. Como pensam que os seus mortos estão privados de fruir da vida, pensam também que ficam privados da faculdade de sentir e libertos da dor das duras e contínuas tribulações que se sofrem nesta vida. Nós, porém, assim como devemos ter um espírito mais elevado por causa da recompensa esperada, devemos também suportar melhor a dor graças a essa consolação. Os nossos mortos não foram enviados para longe de nós, mas apenas antes de nós; a morte não os tragará, a eternidade recebê-los-á. (Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão, doutor da Igreja, Sobre a morte de seu irmão, I, 70-71)

Redação: Pe. Jorge Seixas liturgia@diocesedeviseu.pt
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